quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A Minha Lagoa Azul

É numa quarta-feira chuvosa como esta que eu anseio por um dia off, longe de tudo. Para imaginar que o mundo se resume aos metros quadrados do nosso quarto e que só existimos nós os dois, e que se lixe tudo o resto.
Ou então para sonhar que fomos parar a uma ilha paradisíaca como aquela de "A Lagoa Azul".

Uma ilha onde o céu é sempre de um azul safira, o mar é de um límpido turquesa e a areia mais branca que o sal. Onde todas as cores são tão fortes e vivas como as do Taiti que Gauguin inventou nas suas telas.
As árvores são frondosas e refrescam-nos da canícula. Alimentamo-nos de fruta e de peixe, temos uma cabana sem portas nem janelas mas com um baloiço e um escorrega. Eu passeio-me de tronco nú e tu tens cabelos bem compridos a cobrir pudicamente os teus seios. Tomamos banho de cascata e brincamos com os golfinhos e as tartarugas no mar. Ao contrário do filme, não há bagas que nos adormecem para sempre, nem tribos assustadoras das ilhas vizinhas com ritos bárbaros. Com o passar do tempo, teríamos um filho em que ensinaríamos os mistérios desta natureza primitiva mas sábia.

Eu sei que te ris quando falo de algo assim. Uma vez tu até disseste que "A Lagoa Azul" é o único filme erótico para toda a família, porque apesar de algumas cenas já serem bem puxadas, camufladas pelas atmosfera adâmica e delicodoce, é um filme que os nossos pais já nos deixavam ver quando tínhamos oito ou nove anos nos serões de cinema em família ou na sessão da tarde na televisão.
Eu bem sei que tu achas ridícula a ideia de um amor e uma cabana, e de modo algum trocarias o conforto do nosso apartamento por uma cabana frágil no meio de nenhures. E até podes ter razão. Se bem te conheço, se  acontecesse irmos para a uma ilha assim, morrias de tédio e até o ar puro te chatearia, deixando-te saudosa do monóxido de carbono dos escapes.

Não te estou a censurar, nem a chamar-te fútil ou inapta. Até porque se fosses, dificilmente me apaixonaria por ti. Deixa lá, sou eu que costumo ficar todo melancólico em quartas-feiras chuvosas. Daqui a cinco minutos, vai tocar o despertador e estás determinada a aproveitar cada segundo que te resta antes de levantares. Puxas os lençóis, enfias a cabeça debaixo da almofada, cerras bem os olhos para não encarares o tracejado do estore. Já te conheço tão bem. E percebo que enquanto fores a minha lagoa azul, eu posso estar em qualquer sítio, seja numa cidade chuvosa e cinzenta, seja numa magnífica ilha deserta.